“Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus”. (Efésios 5:15-16)
Paulo, o autor do versículo acima, adverte, aos nossos irmãos congregados na Igreja em Éfeso, da aproximação de dias que, certamente, nem eles nem nós desejaríamos viver. Dias de morte, de solidão e de desesperança. Dias que batem a porta do nosso coração e revestem de aflições, angústias e dores as cortinas que enfeitam a nossa alma. É como se o apóstolo nos dissesse em outras palavras: “preparem-se, meus amados irmãos, pois a qualquer momento, os dias maus estão por vir”. O desejo de viver aos poucos vai cedendo lugar ao anseio da morte como consolo e refrigério ao nosso espírito. O apóstolo apenas trazia à memória daquele povo o que o próprio JESUS alertara algum tempo antes: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo: eu venci o mundo” (João 16:33).
Seus velhos patriarcas também trouxeram essa preocupação às pessoas do seu tempo. Muito parecidas com o conselho de Paulo foram as palavras do filho de Davi, Salomão: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: não tenho neles contentamento” (Eclesiastes 12:1). Dias horríveis tristemente digeridos pelo profeta Jeremias, quando, no desespero de sua alma ao ver Jerusalém em ruínas, suplicou ao Senhor dos Exércitos: “Lembra-te da minha aflição e do meu pranto, do absinto e da amargura. Minha alma certamente se lembra e se abate dentro em mim” (Lamentações 3:19-20).
Em nosso tempo, esses dias de lágrimas incessantes podem ser traduzidos de diversas maneiras: são os dias em que, depois de um crente em Jesus orar muito pela recuperação, pela cura de um ente querido, vê o mesmo descer à sepultura e, assim, faz as suas as palavras do salmista: “Por que te conservas longe, Senhor? Por que te escondes nos tempos de angústia?” (10:1). Para outros, dias perversos são aqueles em que o marido ou a esposa abandona o lar, destrói a família e o casamento; ou até mesmo quando os pais veem seus filhos encarcerados no mundo das drogas, do álcool e da prostituição; e afirmam: “Porque a minha alma está cheia de angústias, e a minha vida se aproxima da sepultura” (Salmos 88:3). Desemprego, fome, enfermidades, depressão são outras causas das inúmeras dos dias mais fatídicos de nossa vida.
O mesmo Salomão, que escrevera Cantares de forma dócil, sensual e poética, em Eclesiastes é um homem amadurecido, sofrido, que escreve com a razão: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois ali se vê o fim de todos os homens, e os vivos aplicam ao seu coração. Melhor é a tristeza do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração” (7:2-3). Quem em sua sã consciência preferia estar num velório a estar numa festa, numa confraternização regada a bebidas e a comidas? O que os dias maus nos ensinam? E como devemos suportá-los?
A dor nos ensina a viver, amadurece-nos. A perda nos traz conquistas. As angústias fazem-nos sair de um estágio de adolescência, ingenuidade, para um outro de maturidade e experiência. Quem vai a um velório aprende, a partir da perda e do sofrimento, que a vida tem de ser vivida responsavelmente, que os nossos minutos aqui neste mundo estão contados. Repensamos melhor a vida, as nossas atitudes, quando nos encontramos em momento de dor. Diferentemente, a festa nos maquia a vida, cria-nos grandes ilusões, fantasias, falsas alegrias e nos afastam de DEUS. É por isso que a velha máxima apregoa que “se aprende melhor a buscar a Deus em momentos de dor”. Apenas compreendendo essa verdade é que iremos entender perfeitamente a razão de o apóstolo Tiago ter escrito: “Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza” (4:9). Só se sabe o valor de uma lágrima quem muito já chorou. Só se conhece o amor do outro por nós quando passamos por grandes provações. A fé só é medida e conhecida nas tribulações.
Sei que é muito difícil caminhar por veredas estreitas, especialmente quando olhamos para o relógio e vimos que os seus ponteiros não param. É muito difícil acordar, olhar a dispensa e ver que não há nada para dar às crianças; mais um dia desempregado e com contas a pagar; ver que o nosso ente querido, internado há dias num leito de hospital, não apresenta melhora alguma. Não estou aqui desejando que o irmão seja máquina, de ferro, que não tenha sentimentos nem se deixe manifestar as suas fraquezas. Não é isso. Porém, muito pior será se não soubermos reagir diante das grandes adversidades. Saber suportar os dias trágicos é preciso, é a chave da vitória de todo cristão para que ele não sucumba de vez nem entre em depressão espiritual. Em meio à profunda dor, o profeta Jeremias nos dá o caminho: “Entretanto disto me recordo, e portanto tenho esperança: as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, pois as suas misericórdias não têm fim. Novas são a cada manhã; grande é a tua fidelidade. A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele” (Lamentações 3:21-24). O próprio JESUS nos disse que é preciso ter ânimo. Essa palavra vem do latim “animu” e quer dizer “vida”. Ter vida significa ter esperança, crer que DEUS está no controle de todas as coisas e que a nossa vitória será estabelecida no Seu tempo.
Desde que saiu do Egito em direção à terra prometida, o povo de Israel recebeu de DEUS grandes promessas. Mas, quando colocado à prova, murmurou. No deserto, os dias foram maus, mas DEUS em nenhum momento o abandonou. Fosse como uma coluna de nuvem de dia para os guiar, fosse como uma coluna de fogo de noite para os alumiar, DEUS estava com ele. Observe o que JESUS prometeu a você e a mim: “(…) E certamente estou convosco todos os dias, até a consumação do século” (Mateus 28:20). Entretanto, de toda a multidão que atravessava o deserto, apenas duas pessoas foram dignas de possuir a promessa de DEUS: Josué e Calebe.
Paulo, a quem citei no início desta reflexão, foi um dos que mais padeceram necessidade, afrontas, violência por causa do Nome de JESUS. Os dias maus pareciam uma constante e intermináveis na sua vida. Mas ainda assim, ele escreveu: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Pois quando estou fraco, então é que sou forte” (2 Coríntios 12:10). A explicação de tamanha fé está em outra carta que redigiu: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Filipenses 1:21). No mesmo livro, ele complementou: “E o meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo a sua gloriosa riqueza em Cristo Jesus” (4:19). Meu irmão, tome para si essa promessa.
O néscio (estúpido, ignorante, incapaz), citado no versículo de abertura, é o indivíduo que reclama de tudo, só faz murmurar, não suporta viver os dias maus, não tem esperança, blasfema, enfim, a ingratidão é a principal semente de sua alma. É ele quem diz ao seu próprio coração quando as tribulações lhe batem a porta: “(…) Não há Deus!(…)” (Salmos 53:1). Não sejamos, meus amados irmãos, como ele. Ao contrário, tomamos para nós, com fé, as palavras de Pedro quando escreveu a primeira epístola aos gentios: “Resisti-lhe firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão-se cumprindo entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, quem em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá. A Ele seja o poder para todo o sempre. Amém” (5:9-11).
FERNANDO CÉSAR – Escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça” e “Antes que a Luz do Sol escureça”. Também é líder do Ministério Interdenominacional Recuperando Famílias para Cristo.
Comentários
Nenhum comentário ainda.