Leio com bastante tristeza a notícia de que dois pastores da Assembleia de Deus se suicidaram somente esta semana no Brasil. Não pretendo, com isso, analisar aqui o assunto da depressão em si nem julgar os atos cometidos pelas duas lideranças religiosas; mas refletir sobre o fardo pesadíssimo que tem recaído sobre a vida de muitos pastores evangélicos no país.
Curiosamente, este texto em questão vem preencher um vazio, em nosso Ministério de restauração familiar, de longos meses sem que uma publicação sequer viesse à tona, exatamente pelo desânimo que a ingratidão do caminho pastoral suscita.
A trajetória de um pastor cristão é muito parecida com a de Moisés no Antigo Testamento. Ele é chamado diretamente por DEUS para ser o libertador de um povo que vive em opressão, estado de escravidão, no mundo (nesse caso, o Egito de nossos dias). Curiosamente, o apóstolo Paulo, muitos séculos depois, ao iniciar a Carta que escrevera aos irmãos na Galácia, fizera questão de afirmar que fora apóstolo, não da parte de homens algum, mas o seu chamado se dera por meio único e exclusivo de JESUS CRISTO, que havia ressuscitado entre os mortos (Gálatas 1:1).
A princípio, esse pastor não se sente preparado para a missão, mas é o SENHOR DEUS quem toma a frente e usa de Sua autoridade para afirmar que é ELE quem o capacita, assim como fez com Moisés: “Então disse Moisés ao SENHOR: Ah, meu Senhor! Eu não sou homem eloquente, nem de ontem nem de anteontem, nem ainda desde que tens falado ao teu servo; porque sou pesado de boca e pesado de língua. E disse-lhe o SENHOR: Quem fez a boca do homem? Ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o SENHOR? Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar” (Êxodo 4:10-12).
E o homem, meio que sem entender bem, meio que sem muita vontade, vai cumprir a determinação do Seu DEUS. E o SENHOR não o chama somente para ser o instrumento libertador, mas também o discipulador e a companhia certa e diária pelos desertos da vida. Todo pastor, verdadeiramente levantado por DEUS, tem um testemunho do seu chamado. É algo maravilhoso, sobrenatural, edificante, somente visto na perspectiva do milagre.
DEUS o chama na avenida diante de um sol escaldante, nas ruas, praças, nas praias, enfim, nos lugares mais incomuns que se possa existir. E a primeira providência do SENHOR DEUS sobre a vida do Seu chamado é tirá-lo do serviço secular, assim como fez com todos os apóstolos de JESUS CRISTO.
Os que eram pescadores de peixes passaram a ser de almas; os que viviam a cobrar impostos e explorar a sociedade, passaram a trabalhar com misericórdia para o bem e o alívio dessa mesma população; o que era médico se transformou em um instrumento do Espírito Santo para realizar curas sobrenaturais, milagres.
Porque DEUS exige tempo e dedicação exclusivos para todo aquele que vai trabalhar para o serviço do Reino DELE.
E esse mesmo homem deve ser respaldado materialmente por aqueles a quem ele irá cuidar, ensinar, doutrinar, apascentar. Nisso, enxerga-se o exercício da voluntariedade, reconhecimento, amor e gratidão entre os irmãos em relação ao seu líder. Ao menos, na teoria e nos princípios bíblicos deveria ser assim.
Ser pastor e muito mais ter um pastor levantado por DEUS é um grande privilégio. É através do pastor que DEUS capacita e aperfeiçoa a igreja, como foi bem descrito por Paulo à igreja em Éfeso: “E Ele (JESUS) mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente” (Efésios 4:11-14).
Um pastor representa também uma cobertura espiritual em oração para todos aqueles que se submetem a ele: “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil” (Hebreus 13:17). Ser e ter um pastor, portanto, é uma bênção de DEUS.
Mas o povo de Israel não entendeu isso. As suas mentes estavam voltadas para o Egito. Também, achavam eles que com Moisés ao lado, nenhuma adversidade lhes sobreviria. Talvez enxergassem Moisés como homem perfeito, que não errasse jamais; e que, por isso, não deveriam se submeter às instruções dele (que na verdade eram instruções de DEUS para aquele povo).
A frequente expressão usada pelo SENHOR DEUS “diga ao povo” vista, especialmente, no livro do Êxodo, demonstra o quanto DEUS usava Moisés, como instrumento DELE, para dar as instruções aos israelitas. Mas, por não reconhecer a autoridade de Moisés sobre a vida deles, que aquela multidão sempre optava pelo estado da desobediência, rebeldia, com o coração sempre voltado para o passado, para o Egito.
Imagino e vejo o quanto o relacionamento de Moisés nos 40 anos que passou com aquelas várias gerações de israelitas nos desertos fora conflitante, muito carregado espiritualmente, tenso, pesado demais; o que causava esgotamento emocional por parte do líder, que simplesmente abandonara tudo para seguir a missão que o SENHOR havia lhe dado. Moisés orientava e o povo comumente desobedecia. Então Moisés clamava a DEUS; e o SENHOR consolava o seu coração.
É notório e é sabido que aquele líder que falava face a face com o SENHOR e a quem DEUS dera as tábuas dos Mandamentos Sagrados era homem falho, pecador, limitado. A Bíblia relata também esse lado triste, sombrio, amargo, dos grandes homens levantados por DEUS. Em Números 12, por causa de uma mulher cusita (que não era a sua esposa Zípora), na tenda, diante de seus irmãos de sangue, Moisés caiu horrivelmente em pecado. E ambos falaram mal dele.
Creio que disseram barbaridades e até o amaldiçoaram porque assistiram ao pecado do líder. “Então o SENHOR desceu na coluna de nuvem, e se pôs a porta da tenda; depois chamou a Arão e a Miriã e ambos saíram. (…) Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do SENHOR; porque, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés? Assim a ira do SENHOR contra eles se acendeu; e retirou-se” (Números 12: 5 e 8-9). O SENHOR quis mostrar para Miriã e para Arão, assim também para todo o povo, que ali havia uma hierarquia estabelecida por ELE e que ela deveria ser respeitada.
O único que deveria corrigir e advertir Moisés sobre seus erros e pecados seria o SENHOR; não mais ninguém. Quando alguém sai de sua posição e tenta atirar pedras contra um ungido de DEUS, isso desperta a ira do SENHOR. A função das pessoas cristãs, mesmo diante de um pecado gravíssimo como fora o de Moisés, não é a de atirar pedras, promover fofocas e revoltas, espalhar o ódio e a dúvida nos corações, mas orar, estender as mãos, assim como o pastor faz com todos aqueles que caem diante dele.
Moisés, esgotado psicologicamente, completamente esvaído, por conta da ingratidão e desobediência, pede para o SENHOR matá-lo: “Então Moisés ouviu chorar o povo pelas suas famílias, cada qual à porta de sua tenda; e a ira do SENHOR grandemente se acendeu, e pareceu mal aos olhos de Moisés. E disse Moisés ao SENHOR: Por que fizeste mal ao teu servo, e por que não achei graça aos teus olhos, visto que puseste sobre mim o cargo de todo este povo? Concebi eu porventura todo este povo? Dei-o eu à luz? para que me dissesses: leva-o ao teu colo, como a ama leva a criança que mama, à terra que juraste a seus pais? De onde teria eu carne para dar a todo este povo? Porquanto contra mim choram, dizendo: Dá-nos carne a comer. Eu não posso levar a todo este povo, porque muito pesado é para mim. E, se assim fazes comigo, MATA-ME, peço-te, se tenho achado graça aos teus olhos, e não me deixes ver o mal” (Números 11:10-15).
Mesmo não suportando mais tamanha carga, Moisés não atentou contra a sua própria vida. Ele era homem de DEUS e tinha o Espírito do SENHOR sobre ele. Ele, ao contrário de cometer suicídio, pediu para DEUS tirar a vida dele, demonstrando, diante de tamanha angústia e decepção, que tinha temor ao SENHOR.
Não é fácil ser líder de igreja (de pessoas), especialmente nos tempos atuais. Parece que, desde o tempo de Moisés para cá, a ingratidão no coração das pessoas só fez crescer. Muitas veem o seu pastor como o seu empregado super-herói.
E quando não conseguem logo o que desejam, abandonam-no, desprezam-no, como um objeto descartável que é deixado em qualquer esquina; e vão em busca de outros que os atendam. Se DEUS, de fato, tem uma lista de pessoas ingratas, desde o tempo de Moisés, essa lista está enorme.
A vida pastoral, ministerial, é uma das árduas que existem no mundo. E é por isso também que ela fora delegada por DEUS apenas para homens e não para mulheres. Com todo respeito e carinho, mas mulheres que adentram nesse caminho de ministério pastoral estão completamente perdidas.
Sempre digo que JESUS estava rodeado de mulheres abençoados e tinha grande amor por todas elas. Mas, JESUS não convocou nenhuma delas para ser apóstola.
O único argumento que as mulheres usam para justificar o ministério pastoral delas é o caso de Raquel. Mas Raquel não era pastora espiritual de pessoas, mas de bichos. Todos os livros da Bíblia foram escritos por homens, até mesmo o de Rute e o de Ester. No livro de Atos, quando tiveram que resolver a questão das viúvas, estabeleceram “sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (Atos 6:3).
Outro detalhe: eu não chamo a vida pastoral de profissão. Não a vejo assim à luz da Bíblia, mas como missão e chamado. Assim como não vejo a igreja como uma instituição com CNPJ, uma organização jurídica secular, mas como o Corpo Vivo de CRISTO, estabelecido na terra pelo próprio JESUS.
Conheço centenas de jovens (sexo masculino), entre 15 a 18 anos (e até um pouco mais) que sonham em ser pastores. A primeira coisa que digo para eles é que esperem pacientemente para ver se serão mesmo chamados pelo SENHOR (não por homens nem pela mera condição de se submeterem a um curso de Teologia), para não recaírem em uma ilusão perdida, que poderá custar-lhes a vida. Não adianta homens verem qualidades pastorais nos outros, se DEUS assim não vê.
Por fim, ser pastor, sem exagero algum, é não ter amigos fiéis e compreensíveis; é não ter hora para dormir nem para se alimentar; é estar sempre com um sorriso no rosto, embora o coração esteja carregado de lágrimas; é ter costas de ferro para suportar tamanhas pedradas que atiram contra ela; e estar pronto para ser abandonado a qualquer momento, e, ainda assim, andar solitariamente pela estrada da vida, sempre pronto a servir e a abraçar quem lhe apareça pela frente…
Em CRISTO,
FERNANDO CÉSAR – Escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça”; “Antes que a Luz do Sol escureça” e da coleção “Destrua o divórcio antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua o adultério antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua a insubmissão antes que ela destrua seu casamento”. Também é pastor e líder do Ministério Restaurando Famílias para Cristo.
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