Muitos líderes protestantes fazem uma confusão enorme entre a Lei e a Graça de DEUS na hora em que vão ministrar sobre casamento ou aconselhar alguém que esteja atravessando o vale de uma separação ou divórcio. Dizem-se defensores da Graça, mas não raramente são apanhados ensinando ou aconselhando artigos da lei judaica para um povo que se propõe ser de CRISTO.
A partir desse estudo, explicitarei o que é válido e o que não é válido para a igreja cristã concernente ao tema casamento para que não haja mais equívoco no momento da pregação ou do aconselhamento. Há alguns fatores que merecem ser considerados: a contextualização de um versículo (ou o conjunto deles), a hermenêutica (a perfeita interpretação dos textos bíblicos); o que foi dito especificamente para o povo judeu e o que é próprio para a igreja cristã.
Por exemplo: há textos no Antigo Testamento que são válidos para as pessoas detentoras da Graça de DEUS, assim como há passagens do Novo Testamento que só serviram para o povo judeu.
Vamos começar do seguinte ponto: a definição de casamento no Antigo Testamento mudou na Nova Aliança? Há, no mínimo, duas ocasiões no Novo Testamento que atestam que não houve mudança conceitual em relação ao tema casamento criado por DEUS na origem:
1. “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne” (Gênesis 2:24) (O QUE DEUS CRIOU);
2. “E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?” (Mateus 19:5) (O QUE JESUS RATIFICOU AOS JUDEUS);
3. “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne” (Efésios 5:31) (O QUE O APÓSTOLO PAULO CONFIRMOU À IGREJA).
São três textos iguais ditos em épocas e circunstâncias diferentes, por pessoas diferentes, mas pelo mesmo Espírito. O primeiro reporta-se à criação, ao começo de tudo, e dito pela primeira vez pelo SENHOR.
O segundo faz parte de um diálogo empreendido por JESUS com os fariseus e escribas, que desejavam pegá-LO em alguma armadilha doutrinária; e o último, pelo apóstolo Paulo à igreja primitiva localizada em Éfeso (e que serviu para toda a igreja cristã em todos os lugares).
JESUS homem/DEUS e Paulo como apóstolo maior da igreja cristã primitiva lembraram o pensamento do DEUS Criador a dois destinatários distintos. Está mais que provado que o conceito concebido pelo PAI permaneceu para JESUS, para os apóstolos assim como é válido para a igreja cristã em nossos dias.
O que NÃO é válido para a vida da igreja cristã (nem a primitiva nem para a de hoje)? Tudo o que está transcrito sobre casamento, como forma da Lei, nos livros de Levítico e Deuteronômio. Por exemplo, vejo muitos líderes protestantes atuais usarem Deuteronômio 24:1-4:
“Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa. Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem, e este também a desprezar, e lhe fizer carta de repúdio, e lha der na sua mão, e a despedir da sua casa, ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, então seu primeiro marido, que a despediu, não poderá tornar a tomá-la, para que seja sua mulher, depois que foi contaminada; pois é abominação perante o SENHOR; assim não farás pecar a terra que o SENHOR teu Deus te dá por herança”.
Essa foi uma ordenança específica para os judeus daquele tempo, em nada sendo útil à igreja cristã. Se fôssemos utilizá-la, teríamos também que obedecer e viver o que está no capítulo seguinte do mesmo livro: “Quando irmãos morarem juntos, e um deles morrer, e não tiver filhos, então a mulher do falecido não se casará com homem estranho, de fora; seu cunhado estará com ela, e a receberá por mulher, e fará a obrigação de cunhado com ela. E o primogênito que ela lhe der será sucessor do nome do seu irmão falecido, para que o seu nome não se apague em Israel. Porém, se o homem não quiser tomar sua cunhada, esta subirá à porta dos anciãos, e dirá: Meu cunhado recusa suscitar a seu irmão nome em Israel; não quer cumprir comigo o dever de cunhado. Então os anciãos da sua cidade o chamarão, e com ele falarão; e se ele persistir e disser: Não quero tomá-la; então sua cunhada se chegará a ele na presença dos anciãos, e lhe descalçará o sapato do pé, e lhe cuspirá no rosto, e protestará, e dirá: Assim se fará ao homem que não edificar a casa de seu irmão; e o seu nome se chamará em Israel: A casa do descalçado” (Deuteronômio 25:5-10).
Não há nenhuma instrução de JESUS nem dos apóstolos para que os textos oriundos da Lei de Moisés sobre casamento fossem igualmente aplicados à igreja cristã. Outra informação importante: a primeira parte do versículo primeiro, capítulo 3, do livro do Profeta Jeremias é uma referência ao que está escrito em Deuteronômio 24:1-4.
A última parte do versículo é o chamado de DEUS para todos os que se prostituíram: “Ora, tu te prostituíste com muitos amantes; MAS AINDA ASSIM, TORNA PARA MIM, diz o SENHOR”. DEUS não despreza, não exclui, não mata, não lança ao inferno uma pessoa que se prostituiu, se houver arrependimento e abandono do pecado.
O SENHOR é a esperança dos caídos, a restauração dos vasos quebrados e destruídos: “AINDA ASSIM, VOLTA PARA MIM”. Esse caráter amoroso de DEUS foi ontem, é hoje e será até a volta do SENHOR JESUS para todos que quiserem. Assim como aconteceu com a mulher pega em flagrante adultério pelos fariseus e escribas, no Evangelho de João, que a levaram à presença do SENHOR JESUS para ver se o Filho de DEUS iria condená-la.
Cada qual segurava uma pedra, exatamente, porque eram seguidores da Lei transcrita em Levítico 20:10. A indagação que fizeram a JESUS fora a seguinte: “Na Lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?” (João 8:5).
JESUS condenou a postura dos fariseus e escribas e absorveu aquela pobre mulher pecadora com uma advertência: “(…) Vai-te, e não peques mais” (João 8:11).
O texto transcrito em Mateus, capítulo 19, versículo 9, é outro muito utilizado por muitas lideranças protestantes como conselho para o divórcio e um novo casamento: “Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério”.
Por que esse texto não serve para a igreja cristã embora tenha sido dito por JESUS? É preciso examinar com cuidado toda a passagem (do versículo 3 ao 12), o seu contexto; e não apenas um versículo isolado.
Imagine JESUS sendo confrontado por um grupo de pessoas que não acreditavam NELE, que não O viam como o Messias Enviado de DEUS. O versículo 3 traz uma palavra-chave para a nossa melhor compreensão “TENTANDO-O”. Esse fora o objetivo dos fariseus e escribas em relação ao Filho de DEUS.
Eles, na verdade, queriam tentá-LO, pegá-LO em contradição; provar que JESUS não era nada daquilo que propagavam à época a Seu respeito. Escolheram o tema CASAMENTO JUDAICO. E fizeram isso por meio de uma pergunta: “É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?” (Mateus 19:4).
Os primeiros que fizeram essa pergunta eram defensores das instruções de um sábio chamado Hillel. Foram a JESUS para saber qual a real posição do Messias: se ELE ficaria do lado da filosofia de Hillel (mais flexível) ou defenderia a posição de Shammai, mais rigorosa (afirmava que um homem só podia repudiar a sua mulher se comprovasse que ela havia fornicado com outro antes do casamento, ou seja, não se casara virgem com ele).
Embora os nomes desses dois sábios (que migraram da Palestina para a Babilônia em virtude da opressão romana) não apareçam claramente no Antigo Testamento, suas filosofias aparecem em forma de Lei judaica em Deuteronômio 24:1-4 e 22:13-21 respectivamente. Era uma armadilha colocada diante de JESUS.
A resposta de JESUS para a primeira pergunta deles foi: “Vocês não leram que Aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mateus 19:4-6).
Enquanto os fariseus e escribas queriam conhecer o posicionamento de JESUS acerca do repúdio, ELE respondeu-lhes trazendo às suas mentes a doutrina do Criador sobre o casamento: “NÃO SEPARE O HOMEM POR MOTIVO NENHUM”. Essa é a doutrina celestial e universal para todos os povos, crenças e nacionalidades.
Insatisfeitos com a resposta dada por JESUS, eles tentaram, como sempre faziam, confrontá-LO com as leis permissivas dadas por Moisés para os judeus: “Então por que Moisés mandou dar-lhe carta de repúdio, e repudiá-la?” (versículo 7). Demonstravam muito mais zelo com essas leis do que com as palavras do SENHOR JESUS.
A resposta do SENHOR fora a seguinte: “Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; MAS AO PRINCÍPIO NÃO FOI ASSIM” (versículo 8). JESUS afirmou que a permissividade de Moisés para eles contrastava com o pensamento do DEUS Criador.
Para em seguida, responder-lhes: “Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério” (versículo 9).
Por que em caso de fornicação um homem judeu poderia se casar com outra mulher? Porque, dentre outros motivos, o casamento judaico se consolidava após a comprovação da virgindade da mulher oferecida por seu pai ao marido. Se essa virgindade não fosse testificada através de um lençol branco, haveria consequências drásticas para aquela mulher por ordem do sacerdote, como se lê em Deuteronômio 22:13-21.
Agora, surgem três perguntas necessárias:
1) Em que essa passagem de Mateus interessa à igreja cristã? Em absolutamente nada.
2) Por que, então, muitos líderes protestantes atuais insistem em utilizá-la como ponto de doutrina para a igreja cristã? Por pura ignorância.
3) E por que essa suposta cláusula de exceção de Mateus 19:9 (não sendo por causa de fornicação) fora excluída dos Evangelhos de Marcos e de Lucas (10:11-12 e 16:18, respectivamente)? Porque, enquanto o Evangelho de Mateus fora construído para o público judeu, o de Marcos se destinou aos romanos, e o de Lucas para os gregos.
É uma profunda irresponsabilidade utilizar-se do versículo isolado de Mateus 19:9 para aconselhar uma pessoa cristã, lavada e remida pelo Sangue de JESUS, que vive debaixo da Graça de DEUS.
É como se quisessem colocar sobre essa pessoa o véu judaico, já abolido pelo Nosso SENHOR JESUS CRISTO, como bem Paulo escreveu: “E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face, para que os filhos de Israel não olhassem firmemente para o fim daquilo que era transitório. Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido. E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Mas quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará” (2 Coríntios 3:13-16).
A síntese perfeita e universal do pensamento de JESUS sobre a licitude ou não de um casamento fora transcrita por Lucas: “Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e aquele que casa com a repudiada pelo marido, adultera também”.
Maridos e esposas se uniram em casamento para viverem juntos até a morte. Essa é a doutrina do DEUS que diz que odeia o repúdio. Quem transgredir essa norma celestial estará incorrendo na prática do adultério. Por que essa doutrina é válida para a igreja cristã? Como saber disso?
Ela foi lembrada à igreja cristã primitiva pelo apóstolo Paulo: “Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido, livre está da lei, e assim não será chamada adúltera, se for de outro marido” (Romanos 7:2-3); “A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no SENHOR” (1 Coríntios 7:39).
A que lei Paulo se referiu? À lei do casamento, do matrimônio, que une o marido à esposa (lei do marido). É essa doutrina que deve ser ensinada à igreja; a doutrina da Graça, de DEUS, que conduz os homens à salvação espiritual.
Embora DEUS abomine o repúdio (como se lê em Malaquias 2:16), Paulo, que era cheio do Espírito Santo, considerou a possibilidade de haver uma separação no meio da igreja cristã? Claro que sim. Podemos ver isso em 1 Coríntios: “Se, porém, se separar, que fique sem casar; ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher” (7:11).
A quem o apóstolo estava dirigindo esses conselhos? Aos que já eram casados (daí a advertência de não se casarem de novo): “Todavia, aos casados, mando, não eu, mas o SENHOR, que a mulher não se aparte do marido” (vers. 10).
No versículo 15, Paulo orienta que se um cônjuge descrente quiser se separar de um marido ou esposa crente, que este ou esta aceite a separação para não ser submetido (a) a maus tratos (que ele chama de servidão), pois o mais importante é viver na Paz que DEUS os chamou: “Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque, neste caso, o irmão, ou a irmã, não estará sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz”.
Em que lugar, nesse texto, o apóstolo Paulo fez referência à possibilidade de um divórcio e de um novo casamento, como querem muitos líderes protestantes? Em lugar algum. Essa possibilidade só encontra guarida nas mentes e nos corações cauterizados pelo diabo e pela escravidão carnal, com o fino desejo de agradar o EU das pessoas que repudiaram ou foram repudiadas pelos seus cônjuges.
O Espírito Santo que conduzia a vida de Paulo jamais iria entrar em contradição (no versículo 11 orientou ao não novo casamento; e no 15, orientaria o contrário?). Divórcio e um novo casamento nunca representaram a Paz de JESUS, mas o inferno espiritual.
É essa a doutrina que deveria ser ensinada à igreja de forma segura e responsável. Um pastor deve conduzir as ovelhas a uma vida de santidade, de renúncia, de caminho estreito; e não de promiscuidade e hipocrisia religiosa, como muitos estão fazendo com os seus seguidores, usando o Nome Santo de JESUS.
Viver para CRISTO, mesmo depois de uma separação, e esperar pela vontade do SENHOR nunca constituíram jugo nem carga pesada para ninguém, especialmente para aqueles que um dia desejam morar no Céu. É prazer e alegria fazer a vontade de DEUS.
Casamento, para DEUS, só é desfeito na morte, porque não há mais possibilidade do viúvo ou da viúva ser uma só carne com um cadáver. A doutrina do “DEUS aprova tudo ou qualquer coisa que as pessoas queiram” é tão perversa e maligna quanto o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo.
O DEUS que abomina a pedofilia e a idolatria, por exemplo, é o mesmo DEUS que é contra a uma união oriunda de um divórcio. DEUS é amor para os que desejam viver no caminho estreito e santo estabelecido por ELE.
Que o Espírito Santo abra o entendimento das lideranças religiosas do Brasil e do mundo!
FERNANDO CÉSAR – Escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça”; “Antes que a Luz do Sol escureça” e da coleção “Destrua o divórcio antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua o adultério antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua a insubmissão antes que ela destrua seu casamento”. Também é pastor e líder do Ministério Restaurando Famílias para Cristo.
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