Há muitos anos, o “poetinha” Vinícius de Moraes proclamou, em um dos seus mais famosos poemas: “as muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental!”. Esse verso tornou-se de um fascínio exagerado, tanto pelos amantes da Literatura no Brasil quanto, principalmente, pelas mulheres, além de ter proporcionado um grande estímulo numa humanidade cada vez mais sedenta de beleza exterior. O conceito do que é Belo perpassa séculos e vai encontrar nos filósofos antigos a maior controvérsia. Platão já reconhecia o valor de coisas que são belas por si mesmas e que fornecem um prazer puro diferentemente da dor e da aflição. Sócrates achava que Belo era uma concordância observada pelos olhos e pelos ouvidos. Immanuel Kant dizia que o Belo se encontrava sobretudo no natural: nas plantas, na aves etc. Para os românticos do final do século XVIII, a marca da beleza se elevava dentro da atmosfera interior do indivíduo, podendo ser esteticamente triste; porém irrepreensivelmente amável. Assim, vemos a personagem Quasímodo (“O Corcunda de Notre Dame” – Victor Hugo), um ser esteticamente horrível, mas com o coração mais puro do que os “perfeitos” que estavam ao seu redor. Porém, com o acelerado progresso do capitalismo no mundo, o conceito de beleza foi se desprendendo das manifestações interiores e as pessoas passaram a ser valorizadas pelo o que elas possuem ou possam impressionar esteticamente, em detrimento ao que elas são. O ter ocupou o lugar do ser. E isso causou uma enorme procura pelas clínicas de estética. São homens e mulheres que sentem necessidade de se transformarem fisicamente (chegando muitas vezes a pôr a saúde em risco), não só por se sentirem bem, mas principalmente para atenderem a uma exigência social do mundo moderno. O mercado de trabalho certamente ocupa o primeiro lugar desse modelo: competência sem beleza exterior não serve. É por essa razão que os negros e os deficientes físicos, sem muitos recursos econômicos, dependem de leis para ocupar os devidos lugares no universo profissional. Tanto na concorrência das profissões quanto na arte a situação é a mesma: os negros e os deficientes são relegados à categorização inferior e menosprezada. Em livros de literatura, em novelas, em filmes, assim como na vida real, ou eles são marginais; ou trabalham nas cozinhas; ou quebram pedras; ou são explorados nas usinas; ou os abandonados nas ruas; ou os réus de toda acusação. Na cidade onde eu vivo, um jovem foi abordado em seu veículo por policiais de trânsito, acusado de ladrão, simplesmente porque a aparência dele os assustava. O jovem sofreu torturas e humilhação. Os policiais só não imaginavam que aquele rapaz era sobrinho do Comandante do Batalhão ao qual eles pertenciam.
E, segundo a Palavra de DEUS, no que consiste a verdadeira beleza? DEUS nos ensina a descobrir os valores do caráter, sem nenhuma interferência na aparência externa. Para DEUS, a grande beleza está unicamente na essência interior que se traduz na obediência aos Seus mandamentos. A beleza exterior é apenas um produto das combinações genéticas do indivíduo; escrava da transitoriedade do tempo. Portanto, para DEUS tanto pode existir beleza numa semente que desabrocha como numa flor que fenece. DEUS vê beleza onde nossos olhos naturais não enxergam. Quando Samuel visitou a casa de Jessé para escolher um dos seus filhos para ser rei sobre o povo de Israel, em substituição ao formoso Saul que havia decaído, DEUS deu a orientação básica ao profeta: “Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura; pois eu o rejeitei. O Senhor não vê como vê o homem. O homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (1 Samuel 16:7). Todos os filhos de Jessé eram belos em sua aparência; mas DEUS preferiu escolher Davi; por este ser o menor (no degrau hierárquico familiar), um simples pastor de ovelhas e ter um coração igual ao dELE. Em outra passagem, vemos a beleza exterior como produto do tempo e da vaidade: “Enganosa é a graça e passageira a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada” (Provérbios 31:30). A beleza exterior pode não constituir problema algum na vida de um cristão se este não fizer dessa beleza o fôlego de sua existência e nem for conduzido em seus princípios por ela. Há cristãos que vivem escravizados pelos bens e pela beleza estética que possuem. Se não estiverem formoseados nem ao lado de uma pessoa de aparência destacada sentem-se perdidos. Infelizmente, a beleza exterior tende a se tornar obstáculo na vida de muitos. Para querer ser belo esteticamente, tem que ser liberto interiormente. Caso contrário, a formosura tende a ser um difícil obstáculo para a busca das virtudes. Já diziam os antigos que “quem busca uma perfeita fragrância em frascos bonitos pode encontrar um péssimo odor”. Dependendo do caráter da pessoa, a beleza exterior pode representar um prêmio ou um castigo. Dom Francisco Manuel de Melo, escritor clássico de Portugal, concluiu que “a beleza é um castigo porque a moça bonita geralmente é cheia de si, sempre vaidosa, importante aos seus próprios olhos, tornando-se antipática e insuportável”. Veja também o que está escrito no livro de Ezequiel: “Elevou-se o teu coração (o de satanás) por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor (…)” (28:17). O rei Davi cometeu um grande pecado devido à beleza de uma mulher: “(…) esta era mulher mui formosa e Davi mandou tomar informações sobre ela (…)” (2 Samuel 11:2-3). Urias pagou com a vida por ter casado com uma mulher muito formosa e sem caráter. Sansão ficou embevecido por Dalila, uma das mais belas moças do vale de Soreque; mas esta moça o persuadiu a revelar onde consistiam suas forças, levando-o a perdição: “Assim ele descobriu-lhe todo o seu coração e disse: nunca passou navalha a minha cabeça, porque sou nazireu de Deus desde o ventre de minha mãe. Se viesse a ser rapado, sairia de mim a minha força e me enfraqueceria, e seria como qualquer outro homem” (Juízes 16:17). Abraão, por ter se casado com uma mulher belíssima de aparência, chegou a mentir duas vezes.
A biografia da jovem e bela italiana Rosaura Montalbani, escrita por Henry Thomas (“As Maravilhas do Conhecimento Humano”) nos deixa perplexos. Rosaura era tão linda que muitos foram os casos de suicídio e de loucura registrados em Florença por rapazes que ficavam extasiados por tamanha beleza. Muitos pescadores do rio Arno chegaram a retirar das águas corpos desses jovens. Foi levada diversas vezes ao tribunal pelos pais dos rapazes sob a acusação de possuir uma beleza fora do comum. Os próprios juízes, deslumbrados por tão fulgurante beleza, colocavam-na em liberdade. Após levar um famoso pintor da cidade à loucura, mais uma vez Rosaura foi conduzida a julgamento. Sabem qual foi a sentença que ela recebeu? Notem bem. Uma máscara em forma de caveira foi colocada sobre o seu rosto, e esta ela deveria levar para o resto da vida. Assim pôde ser condenada a prisão perpétua. Henry Thomas ainda nos conta que passados 30 anos, os dirigentes italianos concederam perdão geral a todos os prisioneiros do Estado. O Grão Duque Cosme, ao saber desse caso, mandou que trouxessem a jovem moça à sua presença. Ao retirarem a máscara, encontraram uma pele fanada e olhos encovados, iguais a de uma caveira. A esplêndida beleza de Rosaura lhe trouxe grandes prejuízos.
Conclua, então, beleza exterior é fundamental para DEUS? Está claro que não. Os critérios de DEUS são outros. DEUS não escolhe ninguém pelos trajes exteriores nem ama pela formosura de suas aparências. Não digo com isso que o vestir a melhor roupa, o calçar o melhor sapato e o usar o bom perfume sejam pecado ou desagradem ao PAI. Mas viver em função disso; fazer do exterior uma razão de viver, além de ser prejudicial, é perigoso. DEUS busca um coração quebrantado e um espírito reto. Você é muito belo para JESUS quando o seu coração deseja obedecê-lO; quando não resiste em banhar a face suja de pecado em lágrimas de arrependimento; quando enche o coração de louvor e de gratidão; quando pratica a Justiça e a Verdade com os outros; enfim, você é belo porque foi feito a imagem e semelhança de DEUS. Isso somente… basta!
FERNANDO CÉSAR – Professor, Escritor, palestrante e evangelista. Autor dos livros “NÃO MUDE DE RELIGIÃO: MUDE DE VIDA!” ; “PÓDIO DA GRAÇA” E “ANTES QUE A LUZ DO SOL ESCUREÇA”.
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