O Sermão do Monte, proferido por JESUS aos seus seguidores, na minha opinião, é o mais perfeito conjunto de ensinamentos que um ser humano já leu ou ouviu. Ele fala diretamente ao caráter do homem e dá todos os ingredientes para se obter a “receita” de como ser um cristão verdadeiro; enfim é uma das mais belas passagens de toda a Sagrada Escritura. É sobre esse Sermão, especialmente a primeira bem-aventurança, que vamos refletir essa semana.
Antes mesmo de iniciar seu Ministério aqui na terra, JESUS CRISTO ficou quarenta dias e quarenta noites em colóquio íntimo com DEUS no deserto. Jejuou, sentiu fome e foi tentado pelo diabo em três perigosas investidas. Após a tentação, deixou a região de Nazaré e se transferiu para Cafarnaum, cidade litorânea, onde teria encontrado Pedro, André, Tiago e João, pessoas humildes que trabalhavam com pescaria. A Bíblia relata que já nesse período muitas curas e milagres eram realizados pelo Filho de DEUS entre o povo. Daí, a Sua fama ter se espalhado tão rapidamente. Em seguida, JESUS atravessou o mar da Galiléia e subiu nas colinas de Kurun Hattin, ao sudoeste de Genesaré, e assentou-se. Acompanhado por grande multidão e pelos discípulos que escolhera, a Sagrada Escritura é clara quando diz que JESUS se dirigiu apenas aos seus discípulos; e não a todo o povo como querem alguns: “(…) Aproximaram-se dele os seus discípulos, e ele começou a ensiná-los, dizendo: Bem-aventurados…” (Mateus 5:1-2). E por que todo o Sermão da Montanha fora direcionado somente para os discípulos? Porque JESUS queria ensiná-los a ter personalidade e conduta cristãs, a prepará-los para a grande missão futura. As palavras de JESUS tinham esse público alvo e com esse propósito específico. Não renderiam resultado prático numa multidão de interesses diversos.
Dessa forma, todo o ensinamento presente nos capítulos 5, 6 e 7 do livro de Mateus pode ser resumido nas duas áreas essenciais do homem: a interior, onde reside o seu caráter, e a exterior, onde participam os objetos que aprisionam o olhar. JESUS deixou bem claro que os frutos, as atitudes, o perfeito testemunho, são a marca de uma vida cristã sadia; e que sem um caráter transformado seria impossível alcançar o Reino de Deus. ELE também sabia que, em breve, os seus futuros apóstolos deveriam estar preparados para realizar grandes prodígios no meio de um povo carente e preso às leis judaicas; e essa preparação dependia indispensavelmente de uma libertação interior. Assim fez DEUS no Antigo Testamento: levantou líderes e profetas, ensinando particularmente a cada um deles. É a chamada constituição da igreja espiritual; de um povo santo e escolhido. Quando DEUS chama, ELE mesmo capacita. Todas as palavras proferidas no Sermão da Montanha representam a “plataforma do Reino de DEUS”. É um programa de conselhos divinos e de ética humana, visando à total e perfeita compreensão do homem em relação ao Plano Superior que ele deseja atingir. Logo de início, surgem as oito virtudes: os pobres pelo espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os pacificadores e os que sofrem perseguição por causa da justiça. Hoje, nos ocuparemos em estudar apenas a primeira virtude. Observe bem a escrita: “pobres pelo espírito”, e não “pobres de espírito” como está transcrito em todas as Bíblias do mundo. Nem no texto grego do primeiro século, nem na tradução latina da Vulgata se encontra o tópico “pobres de espírito”, mas “pobres pelo espírito”, ou seja, “pobres segundo o espírito”. Na tradução “de espírito”, entende-se: “pobre de saúde”; é como se disséssemos: “fulano é pobre de saúde”; isto é, falta-lhe saúde. E por acaso JESUS proclamaria o reino dos céus para um desses? Ao contrário, o Filho de DEUS convidou os seus discípulos a se libertarem interiormente dos bens terrenos, pela livre e espontânea escolha espiritual. Essa libertação da escravidão material pela força espiritual supõe uma grande experiência e iluminação interna. Quem não encontrou o “tesouro oculto” e a “pérola preciosa” do Reino dos céus não pode abandonar os pseudotesouros e as pérolas falsas dos bens da terra. Esse abandono só pode ser realizado mediante transformação espiritual feita por JESUS. Não é por força humana. Alguém muito rico e que conheceu a JESUS não vai se libertar definitivamente da escravidão material por esforço da carne e do sangue. Pode até ter êxito, mas passageiro; que logo retornará com maior força que da primeira vez. Um certo milionário pode possuir externamente as suas riquezas, e estar internamente liberto delas; como pode um mendigo não possuir bens materiais e, no entanto, viver escravizado pelo desejo de possuir. O primeiro é livre daquilo que possui; o segundo, escravo daquilo que não possui. JESUS disse: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e onde os ladrões arrombam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem destroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam. Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o seu coração” (Mateus 7:19-21). No livro de Apocalipse está escrito: “Aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio para ungires os teus olhos, a fim de que vejas” (3:18).
Ser rico não é pecado. Ser pobre não é virtude. Virtude ou pecado é saber ou não saber ser rico ou pobre. O livro de Lucas relata a história de um certo homem de posição e que queria saber o segredo para entrar no Reino de DEUS. Ao saber que ele cumpria os mandamentos, JESUS o advertiu dizendo-lhe que ainda faltava uma coisa: vender tudo o que tinha e repartir com os pobres. “Mas, ouvindo ele isto, encheu-se de tristeza, porque era muito rico. Vendo Jesus que ele ficara muito triste, disse: quão dificilmente entrarão no reino de DEUS os que têm riquezas!” (18:23-24). Está provado que aquele homem era um escravo dos bens materiais que possuía. A Bíblia Sagrada também relata a história de Jó, o homem mais rico do Oriente. Jó perdeu todas riquezas materiais, inclusive filhos e filhas, ficou doente; mas a sua reação diante do problema foi de um homem liberto de suas riquezas: “Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1:21). A pobreza ou a riqueza material sem JESUS gera desespero, traz desesperança, tristeza, solidão e produz miséria. A pobreza ou a riqueza material em JESUS gera paz, alegria e produz esperança no coração do homem. No livro de Provérbios está escrito: “Melhor é o pouco com o temor do Senhor, do que um grande tesouro com a inquietação” (15:16). Reflita bastante nessa verdade. Conheço pessoas riquíssimas materialmente cujo cotidiano é um inferno.
Somos mais valiosos que as aves do céu e os lírios dos campos. Somos os pobres mais ricos do mundo porque o nosso Deus Provedor é quem nos sustenta: “como entristecidos, porém sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Cor. 6:10).
Quem ressuscitou com CRISTO e nELE persevera é liberto dos objetos exteriores e, sendo rico ou sendo pobre materialmente, tem abundância de gozo. De quem é, então, o reino dos céus? De um algum religioso de dogma A, B ou C? Será de algum adepto da doutrina desta ou daquela igreja ou seita? Nem sombra disso! O reino dos céus é dos “pobres pelo espírito”, os que se libertaram amparados no DEUS transformador e no DEUS provedor, aqueles que ultrapassaram a fraqueza e a insegurança interior e se tornaram ricos em JESUS. Desses é o reino dos céus. Aqui, agora e para sempre e em toda a parte, porque sendo deles o reino dos céus, onde quer que esse homem vá, levará consigo esse reino, o reino da felicidade. Por isso, meu querido amigo leitor: “olhai para as aves do céu; não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros e, contudo, o vosso Pai celestial as alimenta. Não tende vós muito mais valor do que elas?” (Mateus 6:26).
FERNANDO CÉSAR – Escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça” e “Antes que a Luz do Sol escureça”. Também é líder do Ministério Interdenominacional Recuperando Famílias para Cristo.
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