“Eu, João, irmão vosso e companheiro convosco na aflição, no reino e na perseverança em Jesus, estava na ilha chamada Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia: o que vês escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodicéia”. (Apocalipse 1:9-11).
Primeiramente, parece-me indiscutível que o livro de Apocalipse é um escrito profético e não simplesmente histórico. O apóstolo João, como ele próprio menciona em primeira pessoa, esteve aprisionado em Patmos, uma ilha vulcânica grega que se encontra entre as mais setentrionais do Dodecaneso (conjunto de 12 ilhas) no mar Egeo oriental, entre os anos 81-96, onde, numa gruta, escreveu, a meu ver, as mais belas e preciosas páginas dirigidas à compreensão das igrejas de ontem e da atualidade.
Outro fato importante que precisa ser mencionado é que, embora o texto apocalíptico esteja destinado aos bispos das sete igrejas na Ásia, não significa que sua aplicabilidade limite-se apenas àquela época; mas, acredito, que sua projeção explique e revele as principais características das igrejas desse nosso século (isso seria “o que há de ser”).
João viu uma dupla realidade, duas coisas que são uma só: algo que já é; e algo que há de ser, e as viu a um só tempo, como superpostas, como por transparência. Traduzindo historicamente: a primeira visão corresponde à perseguição que o cristianismo sofrera por parte do império romano; a segunda, a história da Igreja perseguida, especialmente, nos últimos tempos, como também sua decadência espiritual, sua contaminação etc. Ou seja, as quatro primeiras igrejas indicam as etapas de crescimento e desenvolvimento da Igreja – são quatro igrejas pujantes e vigorosas -, enquanto que as outras três são etapas de declínio: combatida, começa a ceder aos inimigos; contamina-se; torna-se motivo de escândalo.
O que não nos deixa dúvidas é que a de Laodicéia é o modelo de igreja dos últimos tempos. Nela, Nosso Senhor mostra que nos conhece tão profundamente que chega a afirmar que não somos frios nem quentes, mas mornos. Você, por acaso, já experimentou beber um copo de água morna? Sabe a sensação que isso causa? Você sentirá ânsia de vômito. É exatamente essa a sensação que Nosso Senhor JESUS tem com a mornidão de Laodicéia, que é a nossa mornidão. Então, o primeiro ponto abordado é a mornidão. O segundo é o enriquecimento errado da Igreja; o amor à avareza, à opulência. Triste, não? Laodicéia diz “rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (…)” (estou bem, meu corpo está bem; não preciso de remédio nem de coisa alguma). JESUS lhe responde: “Mas não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Apoc. 3:17). Parece-nos uma situação muito oposta à declaração do apóstolo Paulo à igreja de Roma: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” Para em seguida concluir: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor(…)” (Romanos 7:24-25). A cegueira espiritual de Laodicéia é a mesma de muitas igrejas de hoje: esqueceram-se da riqueza espiritual e miraram seus olhos às fortunas materiais. É a igreja que constrange seus membros com versículos descontextualizados a “devolver seus dízimos” para enriquecimento ilícito dos seus líderes e de suas instituições religiosas.
Curiosamente, a igreja que precede a de Laodicéia é a de Filadélfia: única igreja junto à de Esmirna que não recebe reprovações do Senhor JESUS. Ambas foram atingidas injustamente em suas bases; porém, mantiveram-se firmes, guardando a Palavra do Senhor. Na de Filadélfia há uma porta aberta que ninguém fecha: a possibilidade de difusão do Evangelho. Podemos então afirmar que essa é a igreja das missões que se difunde para a Ásia e para a África, especialmente, até os confins do mundo. Nossos missionários estão padecendo em seus corpos por Amor a JESUS, em terras desconhecidas, sofrendo privações e necessidades; mas, ainda assim, mantendo firme o testemunho e sendo alimentados pelo PAI. E aqui temos que lembrar de alguns de nossos mártires, que deram as suas vidas por Amor ao evangelho, e que representaram o soluço de um bilhão de almas por padecerem perseguições por parte de sistemas políticos, poderes públicos e, principalmente, do catolicismo romano: Davi Brainerd, Guilherme Carey, Henrique Martyn, Adoniram Judson, John Hyde, Jorge Muller e tantos outros.
Da mesma forma como o corpo de CRISTO sofreu diversos sofrimentos até a Sua ressurreição ao terceiro dia, creio que assim a verdadeira igreja aqui representada também deverá ter a sua paixão. E assim como CRISTO conheceu o triunfo, o mesmo acontecerá aos escolhidos de DEUS aqui na terra. O apóstolo Pedro nos advertiu sobre isso: “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha acontecesse. Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, pois sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (1 Pedro 4:12-14). Como CRISTO havia sido condenado à morte pela Sinagoga, mas conheceu um tempo triunfal e foi recebido pelo PAI em Jerusalém, assim também se sucederá à igreja santa e perseverante; resultado da grande porta que se abre pelo labor das missões, pelo testemunho fiel de nossos irmãos queridos; e também pelos sinais que já se manifestam em nossos dias. Assim como CRISTO chorou sobre Jerusalém (“Jerusalém, Jerusalém! Que mata os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu juntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e tu não quiseste! Agora a vossa casa ficará deserta.” Mateus 23:37-38), a Igreja santa de DEUS pranteará sobre as sociedades religiosas corrompidas em seus princípios. São pessoas que um dia tiveram a oportunidade de falar do Amor de JESUS para uma multidão, mas foram tragadas por suas concupiscências do engano e não se arrependeram jamais. Tornaram-se famosas, impressionaram, acumularam riquezas à custa dos humildes e viveram uma vida de pura hipocrisia. Com elas, levaram também uma multidão ao erro e todos, pelos motivos citados, serão entregues a uma espantosa solidão.
Se você, meu querido irmão, está vivendo em Laodicéia, leia o que diz o Amado de nossas almas, JESUS CRISTO: “Eu repreendo e castigo a todos quanto amo. Portanto, sê zeloso, e arrepende-te. Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo. Ao que vencer, dar-lhe-ei assentar-se comigo no meu trono, assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono” (Apocalipse 3:19-21). Se tiveres ouvidos, ouça essas palavras. Se tiveres olhos, veja; e em teu coração medita nela de dia e de noite. Se Laodicéia se diz tão rica e que não precisa de mais nada, precisamos entender que ela não é tão rica a ponto de não precisar mais se enriquecer de outras riquezas. Afinal, esses ricos são, para JESUS, os mais pobres e miseráveis, e os que mais necessitam de Sua Graça para viverem. Felizes são aqueles que crescem pela fé e na dependência exclusiva do Amor de DEUS. Desses é o reino dos céus…
FERNANDO CÉSAR – Evangelista; escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça” e “Antes que a Luz do Sol escureça”. Também é líder do Ministério Famílias para Cristo.
Favor exclarecer: Existe neste assunto, alguma coisa a haver com modelo estrutural de Igreja, ou seja: pode haver uma interpretação de algum ministeério que é liderado por um único Pastor, sem que haja uma coordenação superior, do tipo “Conselho Deliberativo”?… tendo em vista a argumentação sobre o início de cada capítulo – ‘AO ANJO DA IGREJA QUE ESTÁ EM ÉFESO……FILADÉLFIA…., LAUDICÉIA…
muito grato,
Otoniel Fresqui