Vejo muitas pessoas utilizarem o versículo 29, do capítulo 5, do livro de Atos dos Apóstolos, como justificativa para não se submeterem e, principalmente, obedecerem aos homens, a quem DEUS ungiu e constituiu para serem líderes da igreja aqui na terra; e, muito especificamente, viverem soltas, fazendo o que querem, sem prestar satisfação a ninguém.
Usar versículos isolados, fora do contexto, é, infelizmente, uma prática muito comum no meio protestante. Não à toa, a vida desse grupo religioso não se coaduna com a verdade dura e estreita dos Evangelhos e dos ensinamentos do apóstolo Paulo às igrejas primitivas.
Podemos dividir o capítulo 5 do livro de Atos, escrito pelo médico Lucas (o mesmo do Evangelho), em duas partes: a primeira do versículo primeiro ao onze, onde se lê a triste realidade do casal Ananias e Safira. A segunda, do versículo doze até o final, o versículo 42, onde se assiste à luta espiritual travada pelos apóstolos de JESUS com os do templo dos saduceus (cujo ensinamento maior pregava a não ressurreição de CRISTO).
O versículo 12 traz a informação de que “muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos”; e que “estavam todos unanimemente no alpendre de Salomão”. O alpendre de Salomão era uma espécie de átrio sustentado por colunas que ficava na frente do templo.
Nesse alpendre aglomerava-se grande quantidade de pessoas enfermas, doentes, endemoniadas, com problemas físicos e espirituais, que iam ali com o desejo de serem curadas e libertas. E todos conseguiam o que queriam pelas mãos dos apóstolos que, aproveitavam, para anunciar a JESUS ressuscitado e a importância da salvação.
O versículo 14 diz que “a multidão dos que criam no Senhor JESUS, tanto homens como mulheres, crescia cada vez mais”. O versículo seguinte (15) afirma que os enfermos eram transportados para as ruas sobre leitos e pequenas camas improvisadas para que a sombra de Pedro, quando passasse, cobrisse alguns deles.
Apesar de não expressar claramente que a sombra do apóstolo Pedro tinha poder para curar, podemos entender que isso fosse verdade, visto que, em Atos 19, afirma que “Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam” (vers. 11 e 12).
Portanto, o que é dito sobre a sombra de Pedro em Atos 5:15 não é mera expressão da crendice e superstição humanas. Dessa forma, a popularidade dos apóstolos só aumentava, assim como a simpatia por eles ia crescendo entre a multidão.
Agora uma observação muito importante: as narrativas de Atos 5:15 e 19:11-12 se referem a vidas de homens que foram escolhidos e ungidos por JESUS e tinham compromisso com o Reino de DEUS e a salvação das pessoas.
Tais textos nada têm a ver com os aproveitadores da fé alheia que se passam por homens de DEUS e se exibem nos meios de comunicação de hoje, usando o nome do SENHOR, para, através da exploração de curas, se locupletarem e enriquecerem cada vez mais.
Ao final dos milagres, os apóstolos de CRISTO não passavam “carnesinhos” nem boletos de pagamentos, nem contas bancárias. As pessoas voluntariamente, sem serem persuadidos a nada, dizimavam e ofertavam aos pés dos verdadeiros apóstolos, como fizeram Ananias e Safira no versículo 2.
Os versículos 17 e 18 relatam que o sumo sacerdote e todos que o seguiam da seita dos saduceus se encheram de inveja dos apóstolos e encerraram a todos na prisão pública. Eram tempos em que não se podia pregar abertamente a JESUS, tempos de forte perseguição religiosa, que culminava em prisão. Mas naquela situação específica de cárcere, à noite, “um anjo do Senhor abriu as portas da prisão e, tirando-os para fora, disse: Ide e apresentai-vos no templo, e dizei ao povo todas as palavras desta vida” (versículos 19 e 20).
DEUS sempre providencia o escape na vida daqueles que O amam e fazem a Sua vontade, e, por causa disso, são perseguidos, açoitados e injuriados. DEUS enviou um anjo para salvá-los. E só quem viu as portas se abrirem foram os apóstolos. Ninguém mais. Há milagres que DEUS faz apenas para o Seu povo enxergar.
O versículo 23 diz que os servos dos do sumo sacerdote foram até a prisão para libertar os apóstolos e encontraram as portas fechadas, sem que os homens de DEUS se encontrassem lá. Porque eles saíram e, como ordenara o anjo, foram ensinar a Verdade no templo. Como tenho sempre ensinado, templo não era (e não é) lugar de reunião do povo cristão, nem de cultos, nem de adoração.
O que se faz e o que se vive hoje em dia como costume comum não está de acordo com os princípios cristãos, que afirmavam que DEUS não habita em templos erguidos por homens (Atos 7:47-49 e 17:24). O anjo de DEUS determinou que os apóstolos voltassem ao templo para ensinar. Subentende-se tratar de um público leigo, não convertido, carente de ouvir a Verdade de JESUS, mas que DEUS tinha um propósito de salvação na vida de muitos ali.
Assim como, no passado, o SENHOR delegou uma ordem ao profeta Jonas para que pregasse o arrependimento na cidade de Nínive. Depois de salvos, os convertidos do tempo apostólico não mais voltariam a congregar naquele lugar, mas nas suas casas.
O versículo 24 diz que o sumo sacerdote, o capitão do templo e os chefes dos sacerdotes ficaram perplexos ao saber como os apóstolos foram libertos da prisão. O texto seguinte afirma que uma pessoa alertou que os apóstolos estavam ensinando o povo no templo. O 26 narra que os servidores do sacerdote foram e trouxeram os apóstolos diante do conselho, desta feita sem violência, temendo represália violenta por parte do povo.
Os versículos 27 e 28 já apresentam os apóstolos no conselho e sendo interrogados pelo sumo sacerdote: “Não vos admoestamos nós expressamente que não ensinásseis nesse nome? E eis que enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina, e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem” (Atos 5:28).
A razão do embate fora exposta com clareza pelos saduceus: anunciar o Nome de JESUS ressuscitado, algo abominável aos olhos dos hereges.
A ordem de não se falar no Nome de JESUS já havia sido dada no capítulo anterior aos apóstolos: “Mas, para que não se divulgue mais entre o povo, ameacemo-los para que não falem mais nesse nome a homem algum. E, clamando, disseram-lhes que absolutamente não falassem no nome de Jesus” (Atos 4:17 e 18).
Curiosamente a resposta dada por Pedro e seus companheiros em Atos 4:19 fora a mesma dada ao conselho em Atos 5:29: “MAIS IMPORTA OBEDECER A DEUS DO QUE AOS HOMENS”. Ou seja, mesmo diante de autoridades religiosas reconhecidas da época, os apóstolos não se intimidaram e não negaram AQUELE que havia os salvado e os delegaram para tão grande e preciosa missão.
Em outra ocasião, Paulo afirmou que não se envergonhava do Evangelho, que era (e continua sendo) o Poder de DEUS para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego (Romanos 1:16). Pedro e demais apóstolos e, posteriormente, Paulo afirmaram não sentir vergonha de anunciar o nome de JESUS CRISTO, Aquele que ressuscitou e salvará a igreja da morte eterna.
Mas um detalhe muito importante: nenhum apóstolo ensinou a igreja a ser desobediente e a não se submeter a alguma autoridade constituída por DEUS para apascentar o Seu povo na terra. As palavras firmes de Pedro e os apóstolos se dirigiram a homens ímpios, embora religiosos, a fariseus hereges. Usar essas palavras como justificativa para não obediência e submissão a uma autoridade espiritual terrena constituída por DEUS é uma afronta ao mesmo Espírito que orientou a igreja a esses dois deveres, como consta em Hebreus 13:17 e Filipenses 2:12.
Costumo ensinar que não existe obediência vertical (a DEUS) sem que exista a obediência horizontal (aos homens que ELE constituiu). Assim como desobedecer a esses homens é desrespeitar a hierarquia do Reino estabelecida aqui na terra e desobedecer ao SENHOR; também combater contra estes homens é o mesmo de combater contra DEUS (como se lê em Atos 5:39). O curioso é que depois da resposta de Pedro e demais apóstolos no versículo 29, surge um fariseu chamado Gamaliel, doutor da Lei e venerado por todo o povo.
Ele pediu cautela às autoridades religiosas ao se dirigirem aos apóstolos (versículo 35), citando os exemplos de Teudas e de Judas, falsos messias que atraíram multidões para si, mas cuja obra fora desfeita por causa da mentira. E a multidão que os seguia foi reduzida a nada, porque, para DEUS, ela também não era inocente (versículos 36 e 37).
Para concluir: “Daí de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus” (Atos 5:38-39).
O versículo seguinte se inicia dizendo que os do conselho concordaram com as palavras de Gamaliel. No entanto, antes de despedirem os apóstolos, açoitaram cada um violentamente e mandaram que não falassem no nome de Jesus. Isso só demonstra o espírito de morte, de inveja, que estava sobre a vida daqueles homens religiosos.
Concordaram em liberar os apóstolos, mas sem puni-los injustamente com açoites impregnados de ódio. O versículo 41 é magnífico, maravilhoso, edificante. Uma lição de vida à igreja de hoje: mesmo sofrendo grave injustiça e com marcas por todo o corpo, os apóstolos saíram dali glorificando a DEUS, regozijados, cheios de alegria do Espírito Santo, porque se julgaram dignos de padecer afrontas pelo nome de JESUS.
Minha alma para em silêncio por alguns minutos… Que pessoa de DEUS, nos dias de hoje, teria a mesma reação após sofrer uma afronta dessa? Penso por horas e minha alma não consegue me reportar de um só exemplo sequer, pelo menos em meu país, onde a religiosidade católica e a protestante predominam; onde o ser igreja de CRISTO se reduz apenas a um assistir a cultos e missas em templos e sair desses lugares se sentindo bem. Por muito pouco ou quase nada, esse povo tem, sim, murmurado, reclamado, sido ingrato a DEUS.
E os apóstolos voltaram ao templo dos saduceus e às casas, todos os dias, e não cessavam de ensinar e de anunciar a JESUS CRISTO (versículo 42).
Sempre que tenho oportunidade, tenho feito isso também. Entro em templos para ensinar a doutrina do Reino, o caminho estreito da salvação, apregoar arrependimento aos presentes; e não para adorar e cultuar. E você tem feito o mesmo que os apóstolos?
Que o SENHOR DEUS abra os teus olhos espirituais e te faça obediente à Palavra DELE!
FERNANDO CÉSAR – Escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça”; “Antes que a Luz do Sol escureça” e da coleção “Destrua o divórcio antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua o adultério antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua a insubmissão antes que ela destrua seu casamento”. Também é pastor e líder do Ministério Restaurando Famílias para Cristo.
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