Essa semana ouvi, pela Internet, uma ministração de um pastor muito bem conceituado no meio protestante pela dureza e rigor com que ensina. Ele ministrou sobre um tema que me é muito familiar: casamento e recasamento de pessoa divorciada. Segundo o conhecimento que tenho do assunto, a ministração estava quase perfeita.
Quase, não fossem, no mínimo, dois grandes equívocos cometidos pelo pregador. Digamos que a pregação está 99,8% perfeita. Mas tudo o que está 99,8% perfeito, não é perfeito, mas QUASE PERFEITO. Esse QUASE constitui uma mácula de imperfeição, produto meramente humano e carnal, quase imperceptível, se o ouvinte não estiver inteiramente convencido da plena Verdade sobre o tema ministrado. O QUASE é tão sutil que muitos desatentos dirão que o que foi pregado está perfeito.
Tudo o que sai do coração de DEUS para a boca de qualquer homem não pode ser produto quase perfeito, mas totalmente perfeito. Caso contrário, não foi o Espírito Santo que o inspirou. E como bem o apóstolo Paulo nos ensinou, devemos examinar tudo e reter apenas o que for bom, útil e precioso para a nossa alma (1 Tessalonicenses 5:21).
O homem não só pode se equivocar, como vai se equivocar. Até que ele aprenda a ser um vaso totalmente dependente do SENHOR, vai, em sua precipitação, se colocar muitas vezes no lugar do Espírito Santo. Mas o SENHOR lhe dará oportunidade de se arrepender, de corrigir e de consertar o que fez ou disse de errado em algum momento de sua vida. Essa é uma atitude graciosa e digna de qualquer homem de DEUS.
Quantos pastores antigamente criam de uma maneira e, com o passar do tempo, passaram a crer de outra? Eu conheço vários, inclusive, famosos, catedráticos. O triste é quando essa mudança representa um retrocesso: o homem começa pregando o que é certo, e por conta de alguns fatores, termina corrompido nos princípios corretos, cego espiritualmente, disseminando heresias pelo mundo como se fossem verdades de DEUS.
Mas é preciso que o ouvinte ou o leitor esteja muito preparado no conhecimento sagrado, cheio do Espírito Santo, para conseguir discernir as sutis heresias que são ditas e escritas por muitos pastores. Se ele não tiver revestido dessas duas ferramentas, certamente será de pronto enganado pelas palavras quase perfeitas do pregador.
Na pregação a que assisti, com pouco mais de uma hora de duração, detectei, à luz da Palavra de DEUS, dois erros, contradições, equívocos claros:
1) Sobre a existência do divórcio bíblico. Em quase todo o tempo, o pastor utiliza exaustivamente o termo divórcio na Bíblia Sagrada. Até aí, tudo bem, visto que, em qualquer versão ou tradução bíblica existente na atualidade, esse termo se faz presente. Em umas, mais, em outras, menos. Por tudo o que já estudei e aprendi da parte de DEUS, estou convencido de que o instrumento civil intitulado DIVÓRCIO, que dá direito a um cônjuge se separar e se casar com outra pessoa, nunca existiu nos tempos bíblicos.
O que havia, na verdade, era um instrumento informal de repúdio, escrito à mão, dado pelo marido à esposa, como cláusulas de permissão mosaica, especialmente em dois casos:
a) em casos de o marido ter visto coisa indecente na sua esposa;
b) em casos de ela ter cometido FORNICAÇÃO antes da relação sexual com o seu marido. Daí a existência do LIBELO DE REPÚDIO ou CARTA DE REPÚDIO.
Nunca Carta de divórcio como está hoje traduzido em todas as bíblias de Língua Portuguesa. Se pegarmos qualquer tradução bíblica, anterior à existência do Projeto de Lei do Divórcio no Brasil, veremos que o termo existente era DESQUITE. Porque era esse instrumento legal, civil, existente na época.
Somente depois da discussão acerca do divórcio e a aprovação da sua Lei em 1977, o vocábulo divórcio passou a aparecer com mais frequência nas traduções (o termo desquite desapareceu completamente), até que, em uma tradução específica, a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, ele aparece exageradamente.
Explicado esse ponto, voltemos para a ministração do pastor. Após citar muito o termo divórcio na Bíblia, em dado instante, ele afirma que o divórcio só existiu, no mundo, a partir dos séculos XV e XVI, e que antes disso não havia divórcio. Ora, se até os séculos citados não havia divórcio no mundo (o que é verdade. É importante ler o livro O DIVÓRCIO, de Rui Barbosa), por que, então, ele o citou exaustivamente ao ler os versículos em sua Bíblia? Foi uma contradição aberta, velada e absurda.
2) O único motivo que desfaz um casamento. Chega a doer nos tímpanos a quantidade de vezes em que o referido pregador afirma que a única coisa que desfaz um casamento é a MORTE. E nisso ele está certíssimo. Segundo a exegese bíblica e o conhecimento da vontade de DEUS, nenhum outro motivo destrói, apaga uma aliança matrimonial que não seja a morte: nem adultério, nem coisa indecente, nem fornicação, nem a mentira, nem a falta de sentimentos. Nada.
A sã doutrina é radical nesse assunto, embora a Confissão de Fé de Westminster, aprovada em 1643 pelo Parlamento Inglês, no seu Artigo VI, afirme que há duas causas para a destruição de um casamento: 1) o adultério; 2) o repúdio. Essa Confissão é extremamente respeitada e obedecida pelos calvinistas, especialmente os presbiterianos mais tradicionais, e contaminou os demais segmentos protestantes pelo mundo. Mas o SENHOR DEUS diz que essas razões NÃO DESFAZEM nenhum casamento. Só a morte poderá desfazê-lo, conforme se lê em Romanos 7:2-3 e 1 Coríntios 7:39.
Não podemos abrir nenhuma exceção para aquilo que o SENHOR “bateu o martelo” definitivamente. Bem no finalzinho da pregação, o querido pastor ilustra uma situação em que alguém chega para ele e diz que se divorciou da primeira esposa e casou com outra no tempo da ignorância, quando não conhecia os ensinamentos do SENHOR, querendo saber o que deveria fazer mediante essa realidade.
Ora, o pastor aconselha a esse homem, até com filhos envolvidos com a segunda mulher, a permanecer do jeito que está, porque quando se divorciara da primeira e se casara com a segunda, fizera ignorantemente. Surgem, então, algumas perguntas que devem ser levadas para análise: A IGNORÂNCIA DE UMA PESSOA FAZ COM QUE UM PECADO DEIXE DE SER PECADO? A IGNORÂNCIA, ACASO, É MOTIVO DE DESTRUIÇÃO DO PRIMEIRO CASAMENTO? SE, SIM, ONDE TEM ISSO NA BÍBLIA? QUANDO ACABA, DE FATO, O TEMPO DE IGNORÂNCIA DE UM HOMEM? SERÁ QUANDO ELE ADENTRA UM TEMPLO PROTESTANTE E “ACEITA JESUS” E PASSA A FAZER PARTE DAQUELA DENOMINAÇÃO? OU QUANDO ELE CONHECE A VERDADE, ABANDONA O PECADO E TUDO SE FAZ NOVO EM SUA VIDA?
O problema é que muitos líderes veem o templo como algo igual ao Reino, ou como o próprio Reino de DEUS. Ao denominarem um templo erguido por homens como CASA DE DEUS, colocam-no no mesmo patamar, valor e importância do Reino celestial e glorioso do PAI, o que não tem aceitabilidade neotestamentária.
A CASA DE DEUS, no tempo da Graça, é o Seu Reino e o corpo e o coração de uma pessoa que O confessa como SENHOR e SALVADOR e passa a viver em obediência a ELE. Muitos entendem que o levantar a mão em um templo, o aceitar JESUS, compreende o fim do tempo da ignorância. NOVO NASCIMENTO compreende arrependimento e nova vida; é algo de DEUS na vida do homem, interior, de dentro para fora; e não o contrário disso.
Então, se o cidadão chega ao templo divorciado e em segundo casamento, aceita JESUS, e permanece do jeito que está, isso não significa, em hipótese alguma, que esse homem teve a sua vida transformada pelo SENHOR. Aos olhos de DEUS, ele permanece adúltero. Com uma diferença: antes era adúltero sem conhecimento; depois, adúltero conhecedor da Palavra e com a conivência do seu pastor. Adultério só deixa de existir em nossa vida, quando o abandonamos completamente, largamos ele fora do nosso caráter e comportamento.
Se antes eu furtava; e, depois que ACEITEI JESUS dentro de um templo, permaneci furtando, significa que não houve qualquer mudança interior em mim. Na Bíblia está escrito: “Aquele que furtava, NÃO FURTE MAIS; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom…” (Efésios 4:28) (grifo meu).
Também está escrito: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, MAS O QUE AS CONFESSA E DEIXA, alcançará misericórdia” (Provérbios 28:13) (grifo meu). O apóstolo Paulo indagou à igreja em Roma: “Que diremos pois? Permaneceremos no pecado para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Romanos 6:1-2).
Infelizmente, muitos frequentadores de templos permanecem muito vivos para o pecado. A leitura dos versículos acima serve também para o adultério. O que o SENHOR quer saber não é apenas se o adultério continuado foi consumado no tempo da ignorância, mas se a esposa desse homem morreu, para que esse novo casamento dele tenha validade. Só dessa forma, o adultério, acompanhado de arrependimento, deixará de existir em sua vida.
O versículo muito utilizado, de forma incompleta, por muitos que se dizem cristãos (“Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância…” – Atos 17:30), traz na sua continuidade: “…anuncie agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam”. O que é se arrepender? É um gesto apenas de boca? Ou representa também o abandono a toda prática pecaminosa? Zaqueu, cobrador de impostos, rico por extorquir dinheiro da população, quando teve um encontro com JESUS, disse: “Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado” (Lucas 19:8).
É impossível ser amigo de DEUS e do pecado ao mesmo tempo. Não se pode querer servir a DEUS e com o objeto do furto guardado em casa. O caminho que DEUS fez estreito e reto, não podemos, de forma alguma, transformá-lo com alguns desníveis ou escapes. Ou é ou não é. Ou é sim, ou é não. O que excede a isso provém do maligno. Por fim, é preciso considerar a existência de dois tipos de IGNORANTES:
1) o que é totalmente ignorante, aquele que desconhece os ensinamentos do SENHOR;
2) e o que conhece a Bíblia de Gênesis a Apocalipse, mas ainda não têm o Espírito de DEUS; ou seja, um ignorante espiritualmente falando. Os fariseus e os escribas eram conhecedores de todo o Pentateuco, versículo por versículo, lei por lei, vírgula por vírgula; mas eram profundamente ignorantes, perdidos em sua condição espiritual. Há muitos desses fariseus hoje dentro dos templos, crendo que vão para o Céu de qualquer jeito.
Se chegar um casal para mim, em segundo casamento originado de um divórcio (ainda que tenha cometido isso no tempo da ignorância), querendo congregar em nossa igreja, a princípio, eu o acolho, sim; mas para mostrar para ele que esse tempo da ignorância ainda não cessou na vida de ambos, mas que permanece vivo e de pé, como um tumor que se esconde em lugares difíceis de achar.
Precisarei orientar, à luz da Palavra de DEUS, que ele e ela deverão se afastar do pecado do adultério, se quiserem ser igreja do SENHOR. Não posso relativizar aquilo que DEUS fez absoluto. É um casal bonito, que chama atenção, mas é um casal adúltero, .
E, por ser aos olhos de DEUS, se continuar assim, . Esse casal pode ter um dízimo de 100 mil Reais por mês, mas eu não aceitarei, sem a absoluta disciplina à Palavra de DEUS. Morro materialmente miserável, mas não morro conivente com o pecado de ninguém (nem com os meus).
Para encerrar, gostaria de externar meu grande amor e admiração por este pastor, que preferi omitir o seu nome por questão de respeito. Creio que ele seja verdadeiramente um homem de DEUS, apesar dos deslizes cometidos nessa ministração específica. Eu o amo em CRISTO JESUS e sei que só o Espírito Santo poderá convencê-lo das verdades transcritas aqui. Ele é meu fiel irmão e companheiro nas lutas contra o recasamento de pessoa divorciada. Sei que, um dia, estaremos juntos na glória de DEUS.
No Amor de DEUS,
FERNANDO CÉSAR – Escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça”; “Antes que a Luz do Sol escureça” e da coleção “Destrua o divórcio antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua o adultério antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua a insubmissão antes que ela destrua seu casamento”. Também é pastor e líder do Ministério Restaurando Famílias para Cristo.
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