Prosseguindo com o nosso estudo de compreensão de alguns dos versículos mais populares da Bíblia, chegamos a Atos 17-30:
“Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam”.
Quando separamos o versículo acima em duas grandes partes, percebemos que a primeira (do início ao termo “ignorância”) é infinitamente mais conhecida e mais recitada entre os religiosos de nosso tempo que a segunda (que começa em “anuncia” e vai até o verbo “arrependam”), curiosamente, quase desconhecida e bem menos propagada.
A grande popularidade da primeira parte se dá porque os homens encontram nela a justificativa para permanecerem em suas vidas tortuosas.
A leitura do versículo, além de ser realizada pela metade, é feita completamente fora do seu contexto histórico a que está inserido e da hermenêutica bíblica sobre o perdão de DEUS para os pecados dos homens. É sobre isso, a compreensão dessas duas lacunas, que pretendo tratar aqui.
O capítulo 17 do livro de Atos é um retrato de lutas e perseguições sofridas por Paulo e seus companheiros, causadas por religiosos que se sentiam ofendidos e confrontados em sua fé através das pregações do apóstolo.
Mas também é um atestado de amor verdadeiro a DEUS por um homem que, consciente do seu chamado e apesar das fortes retaliações infernais que recebera, não se curvou aos perigos dos adversários e cumpriu sua missão com êxito até o fim:“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Timóteo 4:7-8).
Atos 17 é o perfeito exemplo do que deve ser uma caminhada cristã, daqueles que foram chamados por DEUS para anunciar o Evangelho com coragem e ousadia, sem medo das possíveis e dolorosas consequências que possam surgir.
A trajetória do apóstolo nesse capítulo começa quando, depois de ter passado por Anfípolis e Apolônia, desembarcou em Tessalônica (vers. 1). Essa cidade da Grécia, sob domínio dos romanos, era conhecida pela excelente localização geográfica que possuía, além do grande progresso comercial face à união entre a terra e o mar.
A rápida passagem por Anfípolis e Apolônia, sem nenhum registro de estada ou ministração, se deu, talvez, pela ausência de sinagogas nesses dois lugares.
Os templos dos judeus eram o lugar ideal para a exposição do Evangelho. No passado, ainda como Saulo e perseguidor da igreja, Paulo conhecia a veneração que os judeus tinham por esses lugares de adoração a DEUS e estudos da lei antiga de Moisés. Assim, a primeira estada do apóstolo efetivamente se deu em Tessalônica; a segunda em Beréia e a terceira e última em Atenas. Em ambas, perseguições e afrontas, por parte dos judeus, foram uma constante.
Como os judeus eram guardadores do sábado, Paulo foi disputar com eles a cerca das Escrituras por três sábados seguidos (como também era costume dele), mostrando a importância da morte e da ressurreição de JESUS. Muitos foram convertidos. Outros, porém, “desobedientes, movidos de inveja, tomaram consigo alguns homens perversos, dentre os vadios e, ajuntando o povo e alvoroçaram a cidade” (vers. 5) a procura de Paulo e seus companheiros.
Invadiram a casa de Jasom, desconfiando que ele os tivesse escondido lá. Nessa altura, alguns irmãos, conhecedores do perigo, enviaram Paulo e Silas à Beréia. Ao chegarem nessa outra cidade, mais uma vez, foram à sinagoga dos judeus (vers. 10). Pela leitura bíblica, parece-nos que o trabalho em Beréia foi mais exitoso.
Muitos foram os que receberam a Palavra de bom grado e foram convertidos pelo SENHOR JESUS. A notícia dessas conversões logo se espalhou pelas cidades vizinhas, chegando até os ouvidos dos judeus de Tessalônica que, tomados pela ira, foram até Beréia e excitaram as multidões contra Paulo e Silas (vers. 13).
Adiante, lemos sobre a ida de Paulo e seus companheiros a Atenas, cidade completamente entregue à idolatria. Paulo, mais uma vez, entrou em outra sinagoga como também nas praças para disputar a Palavra com os religiosos e filósofos daquele tempo.
O versículo 18 fala da existência de filósofos epicureus e estóicos. Os primeiros eram seguidores da seita e da doutrina do mestre Zenão, enquanto que os segundos, seguidores do filósofo Epicuro. Ambos acusaram Paulo de “paroleiro e seguidor de deus estranho”.
Assim, pegaram Paulo à força e o levaram ao Areópago para que se explicasse. O versículo 30, que é tema principal desse texto, faz parte exatamente do discurso do apóstolo no Areópago em Atenas. Ele inicia enumerando uma série de erros espirituais cometidos por aquele povo: como a superstição, a idolatria e a construção do templo e do altar“AO DEUS DESCONHECIDO”.
Transcrevo, a seguir, a última parte do versículo 23, como os versículos 24 e 25 na íntegras, os quais considero muito importantes para a igreja cristã atual:
“(…) Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, NÃO HABITA EM TEMPLOS FEITOS POR MÃOS DE HOMENS; nem tampouco é servido por mãos de homens, como se necessitasse de alguma coisa; pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas”.
Pareceu estranho àquelas pessoas tão religiosas, ensinadas e treinadas a adorar ao Deus delas nos templos, que, Aquele DEUS, que elas desconheciam, era O mesmo que havia criado tudo; dos céus e da terra era Senhor e que ELE não habita em templos erguidos por homens. Um discurso que soou como heresia e uma afronta aos ouvidos atentos da multidão incrédula.
Curiosamente, Paulo, ainda quando era Saulo, havia ouvido essa mesma doutrina da boca do mártir Estevão, pouco antes de ser apedrejado e morto (Atos 7:48), e que ficara em seu coração como aprendizado. O versículo 29 reforçou a tese defendida por ele de não fazer a divindade semelhante ao ouro, à prata ou à pedra esculpida, segundo a imaginação dos homens.
Paulo, até aqui, havia apontado os pontos errados daqueles religiosos. Mas também precisava dar-lhes a solução, o remédio para todos os males apresentados. Daí, surgiu a essência do versículo 30:
“Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam”.
O arrependimento verdadeiro compreende OLHOS ESPIRITUAIS ABERTOS. Aquilo que fizemos na ignorância, desconhecedores da vontade de DEUS, é plenamente perdoado e esquecido, desde que, aqueles erros não façam mais parte da nossa vida. Há muitos, que se dizem arrependidos, que justificam os erros cometidos no tempo da ignorância, mas permanecendo neles, nas práticas abomináveis de vida. Por exemplo: uma pessoa tinha o hábito de praticar pequenos furtos.
Ela, óbvio, não possuía o Espírito de DEUS; era uma pessoa ignorante, desconhecedora da Verdade. Certo dia, em algum lugar, o SENHOR se compadeceu dela e abriu seus olhos espirituais, levando-a ao profundo e verdadeiro arrependimento.
Essa pessoa, então, desfaz dos objetos furtados e passa a não mais a cometer aquele pecado. E, quanto mais ela buscar a DEUS, o conhecimento através da Palavra, mais o SENHOR vai lhe fortalecer e dar maior discernimento. O RESULTADO IMEDIATO DA VERDADEIRA CONVERSÃO E ARREPENDIMENTO É O ABANDONO DAS PRÁTICAS PECAMINOSAS.
Se você até aqui ainda não conseguiu se ver livre delas é porque, no meio do seu “arrependimento”, ainda há a semente, o desejo pelo pecado. E isso precisa morrer para você ter vida plena com DEUS e ter a segurança de que o SENHOR apagou todas as suas iniquidades.
JESUS disse à mulher pega em flagrante adultério: “(…) Nem eu também te condeno: vai-te e NÃO PEQUES MAIS” (João 8:11). Salomão escreveu em um dos seus provérbios: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará,MAS O QUE AS CONFESSA E DEIXA, alcançará misericórdia” (28:13).
O mesmo Paulo indagou à igreja em Roma: “Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abomina os ídolos, cometes sacrilégio?” (Romanos 2:21-22).
À igreja em Éfeso, ele orientou: “Aquele que furtava, NÃO FURTE MAIS; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade” (4:28).
Isso significa que a igreja de JESUS não irá mais cometer pecados, depois de ter entregado a vida a ELE? Óbvio que não. Mas ela não será mais escrava do pecado; e este se tornará o seu maior inimigo e adversário: “Porque sete vezes cairá o justo E SE LEVANTARÁ; mas os ímpios viverão prostrados na calamidade” (Provérbios 24:16).
O arrependimento a que Paulo se referiu em Atenas é universal, geral e atemporal e precisa ser acompanhado do abandono do pecado. Não adianta querer justificar-se a DEUS e aos homens, afirmando que fez tal coisa porque era ignorante, porque DEUS não leva em conta os tempos da ignorância, etc., permanecendo na velha vida e com os velhos hábitos.
Só o temor a DEUS nos levará a um nível de santidade agradável ao Nosso SENHOR para a nossa salvação. É preciso ter consciência dos erros, admiti-los e não cometê-los mais; pelo menos, se esforçar nesse sentido.
Esse é o grande anúncio que DEUS faz aos homens e em todo lugar: “Mas como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver. Porquanto está escrito: sede santos, porque Eu sou santo” (1 Pedro 1:15-16).
Em Cristo,
FERNANDO CÉSAR – Escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça”; “Antes que a Luz do Sol escureça” e da coleção “Destrua o divórcio antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua o adultério antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua a insubmissão antes que ela destrua seu casamento”. Também é pastor e líder do Ministério Restaurando Famílias para Cristo.
Comentários
Nenhum comentário ainda.